sexta-feira, 21 de maio de 2010

Penso se despenso, te dispenso

Pensar ou não pensar? Eis a questão. Penso se não penso, me perco; me perco na paz da indiferença, na agonia do silêncio, na solidão da ignorância. Abstino-me. Decido pensar. Se penso, não dispenso; não dispenso as lembranças, os momentos, as danças. Mas principalmente não dispenso o choro; a agonia em não te ver, a dor de não te ter, o mal de te esquecer.

Quem sou já não sei. Aliás, sei-o bem. Sou uma cabisbaixa criatura que perambula, que busca; que busca a paz, o amor, a felicidade. Mais uma vez me perco. Não, encontro-me. Encontro-me na realidade, no concreto. E sei que não mais posso ter o que buscava. Devo aceitar-me, sozinho. Devo aceitar-te, inconseqüente. Mas não posso, sou teimoso. Insisto em ver-me ao teu lado, em não conseguir viver sem teu abraço.

Não caminho, não converso, não sorrio. Falta-me a alegria, a vontade de me ver que só em você um dia eu tive. Não sei como me entreter, me divertir. Sonho contigo todas as noites. Tenho em você todos os meus desejos. Sinto-me incapaz de sobreviver sem teus beijos. A falta que me faz é impossível descrever. Em todos os passos que dou percebo que me perdi sem tua paz, que você me levou tudo o que eu tinha. Na verdade não te culpo, não foi você que me roubou, fui eu que te entreguei mais do que deveria.

Agora só me resta esperar que volte com tudo que te dei, com tudo que preciso para ser feliz. Mas isso sei que não é mais possível, sei que não vai mais voltar. E não porque você me desconsidera, não porque sou desprezado. Sim porque já não te quero, sim porque te desprezo. Questão resolvida. Penso, e te perco. Penso, e me encontro.

domingo, 16 de maio de 2010

Recorde-se das lembranças!

Mais uma noite e eu em meu quarto, imerso no oceano de minhas lágrimas, na enxurrada que me assola. Enxurrada de recordações, mas também de lembranças. Redundância? Não me admito. Reflito. Recordo, mas não lembro; lembro, mas não recordo. Convenço-me. São diferentes. Passeio pelas minhas experiências. Recordo. Flutuo na minha imaginação. Lembro. Recordo e apenas trago à memória algo que me passou, lembro e crio uma imagem, a qual vivo. Pode-se lembrar do que não se foi presenciado. Lembro-me das vontades, desejos. Mas não recordo o que não fiz. Recordo-me de meus pais, em cujos braços acolhedores um dia eu deitei. Lembro-me de meu avô, cuja face pálida e cansada nunca vi.

Não fuja, seu covarde! Tento me enganar nas recordações de uma vida que não te era ciente. E sempre me percebo nas lembranças de um amor, mas que também não te é ciente. Estas, decoro tão perfeitamente que quase as abrigo em um passado existente. Irreal. Coloco-me em dúvida. Pergunto o que é tudo isto. São recordações fiéis. Não. São meras lembranças de uma mente esperançosa e ilusória. Esperançosa, aguarda a volta da felicidade que um dia teve. Ilusória, não vê que esta felicidade, de fato, nunca existiu.

Alguém me chama. Alguém me salva. Seu nome, sanidade. Sinto toda aquela enxurrada deslizar por meus olhos. Já não choro. De ti, sequer me lembro; recordo-me. Procuro todos aqueles pensamentos de nós dois. Não sou egoísta. Abro mão e deixo que vaguem em tua mente. Impostora. Infiel. Mas recíproca. Sei que estarão bem lá. Cultivando as recordações de um futuro que há muito se extinguiu, alimentando as lembranças de um passado que não mais acontecerá.

sábado, 15 de maio de 2010

Escrever, verbo impessoal.


Há quem pense que escrever é uma perda de tempo, que pensar não vale a pena, que a vida foi feita pra se viver e não pra se pensar. Em partes eu concordo. Pensar não vale a pena, e a vida realmente foi feita para ser vivida. Mas escrever não é perder tempo. Não se deve pensar para escrever. Deve-se escrever para pensar. A vida foi feita para ser vivida. Mas quem disse que escrever não é viver? A escrita é uma das melhores formas de desabafar, visualizar os fatos, colocá-los em ordem e quem sabe achar uma solução.

Sou apenas um amante das palavras. Elas me fascinam. Não é simplesmente saber escrever ou ler uma palavra. Escrever não é isso. Escrever é saber criar, jogar e usar as palavras a seu favor. Escrever é persuadir. Não se resume a uma palavra após a outra, mas uma idéia após a outra. Palavras abstratas não são vazias, geralmente elas dizem mais do que as concretas. Elas não são meras palavras jogadas ao acaso, sempre há uma história por trás. É a criatividade. Cada um é criativo de seu modo, e isso faz com que cada frase seja peculiar. Cada pessoa tem uma história diferente. Escrever nada mais é do que essa soma de experiência, criatividade e linguagem. Escrever é brincar, se divertir. Escreva e guarde. Um dia você vai precisar, e aí você vai perceber que escrevendo ganhou algo, o tempo. Escrever não é perdê-lo, mas sim resgatar e aproveitar muito bem o que lhe é dado. Um tempo precioso, que talvez nunca mais volte.