
Chovia no interior do meu coração e eu estava começando a duvidar da minha capacidade de sustentar um guarda-chuva aqui dentro. O destino tomou-me essa tarefa e me entregou você. Empenhei-me a emprestar-lhe uma barraca, para que pudesse me proteger deste dilúvio. Fiz questão também de emprestar-lhe uma beleza invisível à grande massa. Você acredita em amor a primeira vista? Nem eu. Descartemos esta hipótese ao lembrar que foram necessários um dia e uma noite para que meus olhos pudessem brilhar pelo teu modo de ser. Um show de ilusionismo fez com que a repulsa pelo teu jeito bandido se tornasse minha maior fraqueza. Não sei se foi paixão – não sei sequer se eu sei o que é paixão. Mas o codinome é o de menos; o que importa é o que eu senti. E isso só eu sei. Ou nem eu.
Eu podia jurar que ouvia os gritos das minhas pupilas pelo encontro caloroso das tuas. Em certos momentos seu desejo foi realizado, mas prevalecia a dúvida na certeza de que não era com a mesma intenção. Eu preciso acordar dessa passagem avassaladora, apenas se eu pudesse me livrar do sonífero das lembranças. Faz-me querer dormir e voar por um tempo muito próximo do eterno, o fato de retornar à esperança que eu tinha de que tua cabeça pedisse abrigo aos meus ombros, ou à relutância que me batia ao te ver sorrindo pra mim durante o jogo de cartas. Você fez dias virarem segundos em um passe de mágica.
Há algo que estremece a minha voz ao pronunciar teu nome. E há algo que estremece minha sanidade ao fechar os olhos. O adeus far-me-á esquecer você, mas talvez nunca colocarei de lado os momentos que passamos. Contento-me com o provável “nunca mais”, mas roubei de ti, fora da tua visão, memórias. Não as guardarei na minha cabeça, enviei ao meu coração. Em um lugar bem distante da chuva daqui de dentro.
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