sexta-feira, 25 de junho de 2010

Amnésica Dosagem Cerebral

Cego é aquele que não consegue enxergar. Não porque não consegue formular uma imagem, e sim por não ser capaz de reconhecer a luz. A falta de luz é o breu. É justamente esta escuridão que anda me seguindo. Eu não falo sobre o físico, material; meu ponto é mais além. A luz que retrato pode ser chamada de razão. E sua ausência não nos traz paz. Há quem diga que as emoções são a melhor parte da vida. Discordo. Emoções são o que movem nossa alma, pra cima ou pra baixo – a altura independe. Mesmo quando para o alto, não se há de enganar. Emoções são montanhas russas. E quanto mais elas nos levam pra cima, mais rápida e dolorosa é a queda.

Quem nunca teve de tapar os olhos ao acordar, com a claridade invadindo furiosamente as pupilas? Fazemo-lo justamente para não ficarmos cegos. Daí entende-se: o excesso de luz também causa cegueira. Nós costumamos confundir racional com ancestral. Ser racional é pescar uma brecha de mentalidade sã, em meio ao mar de sentimentos dos quais somos feitos. Pensante e consciente. Ser ancestral é buscar incessantemente uma razão para tudo, às vezes em regime monárquico para com qualquer ato. Ancestralidade é o excesso da racionalidade. Faço questão de recordar: o excesso de luz causa cegueira. Tudo tem uma razão, é verdade. Mas cabeças não são planetas, onde se cabe exatamente tudo que se é conhecido. Mais vale usar o cérebro antes de agir e não depois, na tentativa de resgatar o que se fez errado. Se gastarmos nosso tempo perguntando sobre cada meteoro que atinge todos os planetas do nosso sistema, quanto tempo nos restará para de fato viver?

Ser racional é a única forma de nos levar a ser racional, ausente a redundância. Primeiramente me refiro à simples ação de pensar; posterior, à de usar a verdadeira frieza da falta das emoções. Não vemos a luz, e nos fechamos para o interior. E cá um segredo: a companhia da solidão não nos leva muito longe, ela é frágil e se desmonta no primeiro buraco encontrado pelo caminho. Vemos muita luz, que nos cegam. Quando cegos, da mesma forma, prendemo-nos em nós mesmos.

Neste paradoxo da prisão, consciente ou não, só nos resta saber dosar a luz para que seja suficientemente agradável aos nossos olhos.

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