sexta-feira, 18 de junho de 2010

Eminente Cognome




Saio do banho. Sinto como se toda aquela água que acabou de cair sobre mim tivesse um nome, culpa. Sinto como se o xampu também tivesse um nome, superação. É uma pena eu não ter lavado meu cabelo hoje. Hoje, por sinal, foi o último dia em que eu tive alguém para relacionar à perfeição. Libertação da hipocrisia. A toalha com que me secava invejou e tomou o lugar das minhas emoções: cada vez que eu sentia o algodão roçar minha pele e mudar de lado em meu corpo, ele parecia ter outra textura e originava diferentes pensamentos. Ponto e vírgula. Todos estes momentos pareciam cheios de felicidade, exceto pelo último: eu acabava de não ter mais aquela a quem eu chamava de perfeita. Termino de secar-me. Procuro um espelho para admirar a bela roupa que vou colocar. A única forma de convencer meu ego a sair do chão e planar. Falha tentativa.

Lembro-me daquela face angelical a qual eu nunca imaginei capaz de gerar sofrimento. As aparências enganam. Plenitude de desilusão. Ainda custo a acreditar em todas aquelas palavras que ouvi sair de sua boca. Sentimentos tão cheios de si, ou melhor, a falta deles. Mentiras, traições e orgulho, sua novela havia chegado ao fim. Sim, eu te culpo, por tudo. Julgo-te indiferente e sem caráter, afinal não há quem te conheça melhor do que eu.

- “Insensível! Desleal!”

Penso que gritar me libertará disto. Não mais estou só, ela acabou de adentrar meu quarto. Para e olha pra mim, eu finjo que não a vejo, ou realmente não a vejo.

- “Intransigente! Cruel! Egoísta!”

Eu realmente não a tinha visto. Ela sai correndo, vitimando-se. Acordo em um estalo. Corro atrás. Alcanço-a no breu da escadaria. Mesmo sem poder ver seu rosto, percebo-a soluçando e tremendo como num abalo sísmico. Intitula-me com a mesma insensibilidade que eu há pouco o fiz. Peço-lhe desculpas e abraço-a. Eu não me dirigia a ela. É que ela chegou e postou-se bem na frente daquele espelho.

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