sábado, 24 de julho de 2010

Destino.


Bancos, botas, malas. Rostos, rendas, cimento. Ternos, trens, pessoas. Lá fora houve algo que me fez descer. Eu passo pelas escadas rolantes, sento e paro. O tic-tac do relógio pregado acima de mim não é capaz de me informar quanto tempo se passou. Ou quem sabe ele seja, mas eu prefiro acreditar em minutos próprios, não por egoísmo. A ponta de sanidade que habitava meus pensamentos resolveu explorar a dimensão da plataforma: talvez a aglomeração das seis horas da tarde a tenha distraído. Cá do outro lado só me resta rezar para que ela não tenha sido conquistada por nenhum suéter exausto que lhe ofereça abrigo mais confortável do que o meu, o que não lhes seria uma tarefa árdua.

As memórias cruzam a catraca da entrada e fitam-me, obstinadas a pôr um fim no único motivo que me levou a estar ali. Minha paz corre perigo e eu não sei quanta força pretendo usar pra rebater este projétil. Sentam ao meu lado e abanam a cabeça negativamente ao meu primeiro sinal de inquietação. Elas bem poderiam fugir e recrutar outro anfitrião, mas preferem a arrogância dos meus passos. Chega. Eu não quero mais subir no palco para apresentar uma peça dirigida pelo passado. Eu tomei um novo rumo, sem rumo. Eu procuro um novo lar, sem casa. Eu quero um novo amor, sem alma.

Oito e meia da noite. Saguão vazio, cheio de mim. Ao último anúncio da última partida, meus pés começam a trilhar um caminho em qualquer direção que não seja a circular que insistia em estagná-los antes dali. Atravesso o vão do precipício e subo no trem. Vou desvendar meu novo eu, sem hesitar descer em alguma estação cujo banco não me pareça confortável o suficiente. Onde é que eu vou parar? Eu não gosto de planos: isso não me importa agora.

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