
sábado, 11 de setembro de 2010
Entre Mentes Brilhantes

sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Vida e Amor Não Combinam com Dor

Quanto vale um sorriso? Quanto vale um amor? Quanto vale uma vida? Um sorriso vale uma dor? Um amor vale uma dor? Uma vida vale uma dor? Uma dor pode não valer nada, a física. Uma dor pode valer tudo, a emocional. De que adianta todos os sorrisos, todo o amor e toda uma vida, se de repente uma dor que não vale nada nos traz à pele o áspero toque da dor que vale tudo?
Por um tempo, sua vida está perfeitamente encaminhada. Você só quer chegar a casa, tomar um café, ouvir uma música e deitar no conforto da cama quente, te esperando pro descanso de uma semana exaustiva. Isso é tudo o que você quer, e nada mais. O resto não importa. E em frações de segundo, você só quer sair de casa. Encontrar a única pessoa que abriga sua mente no momento e oferecer-lhe o abraço que você talvez nunca tenha tido coragem de pedir. E ver o brilho dos seus olhos, sentir o beijo aveludado da magia do amor, não o físico. Um amor. Um sorriso. Uma vida.
De repente, o foco muda, a sensação muda, a vida muda. De que vale uma vida? Vale o cuidado suficiente para que seja capaz de manter acesos o sorriso e o amor. Vale a força necessária para se suportar uma dor, a força chamada amor. Vale a coragem requisitada para suportar essa dor. Para suportar a dor que vale tudo. A dor que vale tudo é a dor da ausência. A dor que vale tudo é a dor da saudade. A dor que vale tudo é a dor de perder.
domingo, 22 de agosto de 2010
Submersa Torre
Circulo pelos cantos desse nada que eu herdei, herdei de ti. Apanho obstinadamente as sementes que eu não plantei aqui. Tudo parece pequeno a meu ver, e supérfluo a meu sentir. Meus olhos sangram a ausência da beleza dos teus. Eu agora habito a periferia das suas considerações e do seu Adeus. Eu tento encontrar um buraco no chão deste labirinto: a saída principal não é mais a minha meta. Daqui eu vejo tudo de cima, e eu me satisfaria em dizer que é por ser superior.
Meu mundo tem um limite, e ele acaba nas linhas do seu corpo. Eu brinco de tentar pegá-lo, mas estou de cabeça para baixo e perdi minha coordenação. Você escorrega dos meus dedos. Há nuvens sobre minha cabeça que não indicam a chuva. Aqui relampeia a ansiedade. Assombra-me a companhia da necessidade de descer deste lugar e voltar a ter o monopólio de mim mesmo. Eu posso sentir a força da conspiração que me ilha nesta inação desconcertante, só que eu planejo forças espartanas para esta guerra. A subida, um escorrego deslizante; a descida, uma escalada angustiante. As mesmas pernas que corriam pelos pensamentos de um amor agora fogem das lembranças do seu fim. Você me levou ao céu, me levantou no ar. Mas esqueceu de me ensinar a voar.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Quatro Dias Você

Chovia no interior do meu coração e eu estava começando a duvidar da minha capacidade de sustentar um guarda-chuva aqui dentro. O destino tomou-me essa tarefa e me entregou você. Empenhei-me a emprestar-lhe uma barraca, para que pudesse me proteger deste dilúvio. Fiz questão também de emprestar-lhe uma beleza invisível à grande massa. Você acredita em amor a primeira vista? Nem eu. Descartemos esta hipótese ao lembrar que foram necessários um dia e uma noite para que meus olhos pudessem brilhar pelo teu modo de ser. Um show de ilusionismo fez com que a repulsa pelo teu jeito bandido se tornasse minha maior fraqueza. Não sei se foi paixão – não sei sequer se eu sei o que é paixão. Mas o codinome é o de menos; o que importa é o que eu senti. E isso só eu sei. Ou nem eu.
Eu podia jurar que ouvia os gritos das minhas pupilas pelo encontro caloroso das tuas. Em certos momentos seu desejo foi realizado, mas prevalecia a dúvida na certeza de que não era com a mesma intenção. Eu preciso acordar dessa passagem avassaladora, apenas se eu pudesse me livrar do sonífero das lembranças. Faz-me querer dormir e voar por um tempo muito próximo do eterno, o fato de retornar à esperança que eu tinha de que tua cabeça pedisse abrigo aos meus ombros, ou à relutância que me batia ao te ver sorrindo pra mim durante o jogo de cartas. Você fez dias virarem segundos em um passe de mágica.
Há algo que estremece a minha voz ao pronunciar teu nome. E há algo que estremece minha sanidade ao fechar os olhos. O adeus far-me-á esquecer você, mas talvez nunca colocarei de lado os momentos que passamos. Contento-me com o provável “nunca mais”, mas roubei de ti, fora da tua visão, memórias. Não as guardarei na minha cabeça, enviei ao meu coração. Em um lugar bem distante da chuva daqui de dentro.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Dois Lados De Um Segredo

Talvez eu esteja em um mundo em que amar é contra a lei, e que o único complemento plausível do verbo sentir é vontade. Talvez eu tenha entendido que invejado é o que eu mais quero ser, e que conhecer é o melhor passatempo de uma vida. Talvez eu tenha entendido que eu não sou um esquecido, apenas ainda não fui lembrado. Talvez eu queira estar em vários lugares, ou talvez eu possa me fazer estar em vários lugares. Talvez eu tenha ficado frio, ou talvez eu tenha vestido uma armadura contra a frieza do mundo. Talvez ela tenha me causado efeito contrário e me fez prender em mim mesmo, ou talvez esse seja justamente o efeito desejado. Talvez eu tenha entendido que o verdadeiro lar da perfeição é a simplicidade, e que o verdadeiro lar da satisfação é a mente.
Talvez eu tenha notado que a beleza atrai, mas a inteligência fascina. Talvez eu tenha entendido que o verão pede tudo mais gelado, inclusive o coração; e que o inverno pede tudo mais quente, inclusive o corpo. Talvez eu tenha entendido que o mundo quer que eu viva pra ele, mas que eu mesmo quero que eu viva tão somente pra mim. Talvez eu tenha me dado conta que viver é uma arte, e que não adianta ser apenas mais um amador. Talvez eu tenha ficado egoísta, ou talvez eu tenha entendido que eu sou o único que vai lutar por mim. Talvez eu tenha entendido que o infinito não existe, mas que eu posso ir quão longe eu quiser. Talvez eu tenha percebido que lembrar não depende do viver, mas que lembrar é viver. Talvez eu tenha ficado perfeccionista, ou talvez eu tenha encontrado qualidade suficiente pra me dar ao luxo de exigir. Talvez eu tenha entendido que o coração não foi feito pra bater por pessoas, e sim por momentos. Talvez eu tenha ficado insensível, ou talvez eu tenha finalmente aprendido a viver. Talvez o mundo tenha me feito assim, ou talvez isso seja apenas uma desculpa pra que eu possa ser exatamente como eu sempre quis.
sábado, 24 de julho de 2010
Destino.

Bancos, botas, malas. Rostos, rendas, cimento. Ternos, trens, pessoas. Lá fora houve algo que me fez descer. Eu passo pelas escadas rolantes, sento e paro. O tic-tac do relógio pregado acima de mim não é capaz de me informar quanto tempo se passou. Ou quem sabe ele seja, mas eu prefiro acreditar em minutos próprios, não por egoísmo. A ponta de sanidade que habitava meus pensamentos resolveu explorar a dimensão da plataforma: talvez a aglomeração das seis horas da tarde a tenha distraído. Cá do outro lado só me resta rezar para que ela não tenha sido conquistada por nenhum suéter exausto que lhe ofereça abrigo mais confortável do que o meu, o que não lhes seria uma tarefa árdua.
As memórias cruzam a catraca da entrada e fitam-me, obstinadas a pôr um fim no único motivo que me levou a estar ali. Minha paz corre perigo e eu não sei quanta força pretendo usar pra rebater este projétil. Sentam ao meu lado e abanam a cabeça negativamente ao meu primeiro sinal de inquietação. Elas bem poderiam fugir e recrutar outro anfitrião, mas preferem a arrogância dos meus passos. Chega. Eu não quero mais subir no palco para apresentar uma peça dirigida pelo passado. Eu tomei um novo rumo, sem rumo. Eu procuro um novo lar, sem casa. Eu quero um novo amor, sem alma.
Oito e meia da noite. Saguão vazio, cheio de mim. Ao último anúncio da última partida, meus pés começam a trilhar um caminho em qualquer direção que não seja a circular que insistia em estagná-los antes dali. Atravesso o vão do precipício e subo no trem. Vou desvendar meu novo eu, sem hesitar descer em alguma estação cujo banco não me pareça confortável o suficiente. Onde é que eu vou parar? Eu não gosto de planos: isso não me importa agora.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Sobre Corpo e Alma

sábado, 10 de julho de 2010
Além Do Que Se Vê
Ali moravam as reais pessoas, cruas e prontas ou não para a vida, mas que viviam inteiramente para o momento presente, pois o passado havia sido ainda mais miserável e o futuro era uma peça bastante incerta em suas vidas. “Qual será meu tempo de vida?” Corações divididos entre descobrir ou não. Talvez nem eles mesmos quisessem saber a resposta. Ou até tivessem essa vontade, para que assim pudessem ter exata noção de quanto tempo mais teriam de aguentar o sofrimento como personagem principal em suas melancólicas existências. O medo parecia tomar conta do seu futuro. Mas medo de quê? Medo de tudo que o nada pudesse trazer, ou melhor, continuar trazendo. Nunca tiveram muita coisa, e por isso estavam acostumadas à realidade dura e fria da vida. Mas justamente por saber na pele como era viver sem nada, elas tinham medo de viver – e dessa vez eu me refiro a um tempo mais longo, de preferência até o final de suas vidas, e tão provável quanto este fim – com todo esse nada que nunca tinham sido capazes de conquistar. Existir era uma coisa paradoxal: eles tinham o sonho de viver bastante para poderem ver suas vidas mudarem como num conto de fadas, mas tinham medo de que não vivessem estes tais contos. E no fundo eles sabiam que essas histórias só estão disponíveis nas bibliotecas.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Passos
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Ainda Não Aprendemos

Caminho pela vida e percebo que montanhas sempre sobem a nossa frente e nos cabe determinar a exatidão de sua altura. Manter-se no alto dela não é algo difícil quando se tem vontade, mas que só acontece quando ela também quer. De vez, aquilo se torna maior do que entendemos e nos faz distar cada vez mais do chão. A desconfiança de não saber sair de tamanha altitude faz com que resolvamos partir. Mas partir pra onde? Ainda não aprendemos a escolher nosso caminhos.
Sem sequer perceber, começamos a caminhar em frente, tentando não nos importar com o medo do que estará abaixo de nós nos próximos metros percorridos. É bem verdade que o que estará ali é o ar, vazio e pronto pra servir como túnel de escorregamento até o distante chão para quem não sabe voar. Ainda não aprendemos a magia dos acontecimentos.
Esta mágica surpreende-nos e faz com que sejamos capazes de não entrar neste túnel. Como um pássaro, voamos. Descemos daquele lugar e batemos asas, na partida para encontrar novas montanhas. Elas nunca foram tão desejadas. E nessa busca incessante, mantemos a cabeça fixada em algo cujas características se aproximem de onde acabamos de estar. Ainda não aprendemos a encontrar o diferente.
Enquanto buscamos o que agora nos satisfaz, observamos em volta os outros pássaros contentes em sua busca. Alguns já encontram o monte ideal rapidamente e nos fazem sentir incapazes. Ainda não aprendemos dar tempo ao tempo. Tudo parece belo visto de cima, as florestas que ali habitam insistem em cantar a bela melodia da insegurança. A música é sonífera, e quase nos faz desistir. A teimosia em partir daquela montanha voando para baixo torna a canção cada vez mais alta e envolvente. Ainda não aprendemos que não devemos voar para baixo.
Mais adiante, encontramos o que talvez estávamos procurando. E retornamos àquela mágica dos acontecimentos: não somos nós que analisamos e escolhemos, é o simples acaso que faz surgir novos caminhos. Outras montanhas sobem, e desta vez somos incapazes de determinar sua altura. Não pousamos na esverdeada e atraente costa que nos chama lá em cima. Acabamos por bater na rochosa subida do que nos espera. Dói a dor de ter se deparado tão surpreendentemente com aquilo e impera a vontade de saber o que tem mais pra cima. Ainda não aprendemos que o espinho que nos fere na subida é uma amostra da espada que nos ferirá quando chegarmos lá no alto.
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Amnésica Dosagem Cerebral
Quem nunca teve de tapar os olhos ao acordar, com a claridade invadindo furiosamente as pupilas? Fazemo-lo justamente para não ficarmos cegos. Daí entende-se: o excesso de luz também causa cegueira. Nós costumamos confundir racional com ancestral. Ser racional é pescar uma brecha de mentalidade sã, em meio ao mar de sentimentos dos quais somos feitos. Pensante e consciente. Ser ancestral é buscar incessantemente uma razão para tudo, às vezes em regime monárquico para com qualquer ato. Ancestralidade é o excesso da racionalidade. Faço questão de recordar: o excesso de luz causa cegueira. Tudo tem uma razão, é verdade. Mas cabeças não são planetas, onde se cabe exatamente tudo que se é conhecido. Mais vale usar o cérebro antes de agir e não depois, na tentativa de resgatar o que se fez errado. Se gastarmos nosso tempo perguntando sobre cada meteoro que atinge todos os planetas do nosso sistema, quanto tempo nos restará para de fato viver?
Ser racional é a única forma de nos levar a ser racional, ausente a redundância. Primeiramente me refiro à simples ação de pensar; posterior, à de usar a verdadeira frieza da falta das emoções. Não vemos a luz, e nos fechamos para o interior. E cá um segredo: a companhia da solidão não nos leva muito longe, ela é frágil e se desmonta no primeiro buraco encontrado pelo caminho. Vemos muita luz, que nos cegam. Quando cegos, da mesma forma, prendemo-nos em nós mesmos.
Neste paradoxo da prisão, consciente ou não, só nos resta saber dosar a luz para que seja suficientemente agradável aos nossos olhos.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Eminente Cognome
Saio do banho. Sinto como se toda aquela água que acabou de cair sobre mim tivesse um nome, culpa. Sinto como se o xampu também tivesse um nome, superação. É uma pena eu não ter lavado meu cabelo hoje. Hoje, por sinal, foi o último dia em que eu tive alguém para relacionar à perfeição. Libertação da hipocrisia. A toalha com que me secava invejou e tomou o lugar das minhas emoções: cada vez que eu sentia o algodão roçar minha pele e mudar de lado em meu corpo, ele parecia ter outra textura e originava diferentes pensamentos. Ponto e vírgula. Todos estes momentos pareciam cheios de felicidade, exceto pelo último: eu acabava de não ter mais aquela a quem eu chamava de perfeita. Termino de secar-me. Procuro um espelho para admirar a bela roupa que vou colocar. A única forma de convencer meu ego a sair do chão e planar. Falha tentativa.
Lembro-me daquela face angelical a qual eu nunca imaginei capaz de gerar sofrimento. As aparências enganam. Plenitude de desilusão. Ainda custo a acreditar em todas aquelas palavras que ouvi sair de sua boca. Sentimentos tão cheios de si, ou melhor, a falta deles. Mentiras, traições e orgulho, sua novela havia chegado ao fim. Sim, eu te culpo, por tudo. Julgo-te indiferente e sem caráter, afinal não há quem te conheça melhor do que eu.
- “Insensível! Desleal!”
Penso que gritar me libertará disto. Não mais estou só, ela acabou de adentrar meu quarto. Para e olha pra mim, eu finjo que não a vejo, ou realmente não a vejo.
- “Intransigente! Cruel! Egoísta!”
Eu realmente não a tinha visto. Ela sai correndo, vitimando-se. Acordo em um estalo. Corro atrás. Alcanço-a no breu da escadaria. Mesmo sem poder ver seu rosto, percebo-a soluçando e tremendo como num abalo sísmico. Intitula-me com a mesma insensibilidade que eu há pouco o fiz. Peço-lhe desculpas e abraço-a. Eu não me dirigia a ela. É que ela chegou e postou-se bem na frente daquele espelho.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Egoísta
Eu só queria que você soubesse que eu nunca me acostumei a viver sem você. Todos os nossos momentos ficaram marcados em uma memória que se enchia de desesperança e tristeza. Eu te amava irrevogavelmente por você nunca ter feito por onde. Eu não me culpava por nunca ter agido de uma forma que não fosse me trancar no quarto, chorar e perder meu tempo. Eu perdi a minha vida naquele lugar. Tantas vezes eu podia sair e me divertir, mas, ao invés disso, preferi permanecer trancado no mundo da dependência. Você foi uma droga! Em todos os sentidos possíveis, a pior com a qual já me deparei, mas todos nós sabemos que as piores drogas são as que mais viciam.
E agora, mais do que nunca, arrependo-me de ter estado neste quarto. Dei-te a minha vida, literalmente. Mas por que deixei de aproveitar tudo que eu poderia? Destino? Talvez. E ele a cada dia nos surpreende ainda mais. No auge da minha ingênua ignorância, eu pensava que já havia deixado tudo pra trás e não tinha mais pra que existir, nem me arrepender. Levantei da cama, passos curtos e frios. Cheguei à janela. As mãos trêmulas e as lágrimas nos olhos. O vento tocou suavemente meu rosto, e o secou. Um movimento brusco e não havia volta. Eu agi. Lá embaixo, pessoas andavam e carros buzinavam. Tudo parecia tão normal, exceto por mim mesmo. O chão aproxima-se cada vez mais rápido. Droga, a gravidade! Deixo fluir e aproveito o único momento da minha vida em que eu pude voar. E o último, por sinal. De repente tudo ficou preto. Eu não respirava, eu não conseguia me mover. Não fui eu que fiz aquilo, foi você que me obrigou.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Reversível

Começa uma nova vida, uma nova velha vida. Não me iludo, é apenas um jeito diferente de enxergar o que nunca mudou. As pessoas são outras, mas a história permanece intacta. Uma nova melodia para a mesma música de sempre. Seu título, paixão. Retifico-me, é ilusão. Parece ser a melhor canção que já ouvi. De fato é, só que com prazo de validade. No fundo eu sei que um dia esta música vai parar.
Enquanto ela ainda toca, vivo como se nunca fosse acabar. Não consigo mais passar um minuto sequer sem cantar sua letra. É a combinação perfeita dos melhore sons. Ouço-te sussurrá-la em meus ouvidos. Paraíso infernal. Cada palavra me lembra tua voz, cada rima arranca-me sorrisos. Sinceros. Ingênuos.
O tempo. O envolvimento. A mudança. Tua canção não é mais a mesma. Seu ritmo aumenta e torna-se cada vez mais provocante. Aquela combinação harmônica de meros instrumentos não existe mais. Agora é uma inteira orquestra. Quem a toca, fá-la com tamanho dom que a torna natural. O natural que penetra teus tímpanos e atinge teu cérebro. É capaz de roubar-te de ti mesmo. Um crime perfeito. Até seria se eu não soubesse que crimes perfeitos não existem. Uma falha em meio àquele (quase) eterno espetáculo. O maestro foge. Corre para longe daquele teatro. Sou mais rápido que a orquestra. Da velocidade de meus passos, não me arrependo. Noto-me um maestro vidente. Eu sabia. Sempre soube que um dia a música iria parar.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Penso se despenso, te dispenso
Quem sou já não sei. Aliás, sei-o bem. Sou uma cabisbaixa criatura que perambula, que busca; que busca a paz, o amor, a felicidade. Mais uma vez me perco. Não, encontro-me. Encontro-me na realidade, no concreto. E sei que não mais posso ter o que buscava. Devo aceitar-me, sozinho. Devo aceitar-te, inconseqüente. Mas não posso, sou teimoso. Insisto em ver-me ao teu lado, em não conseguir viver sem teu abraço.
Não caminho, não converso, não sorrio. Falta-me a alegria, a vontade de me ver que só em você um dia eu tive. Não sei como me entreter, me divertir. Sonho contigo todas as noites. Tenho em você todos os meus desejos. Sinto-me incapaz de sobreviver sem teus beijos. A falta que me faz é impossível descrever. Em todos os passos que dou percebo que me perdi sem tua paz, que você me levou tudo o que eu tinha. Na verdade não te culpo, não foi você que me roubou, fui eu que te entreguei mais do que deveria.
Agora só me resta esperar que volte com tudo que te dei, com tudo que preciso para ser feliz. Mas isso sei que não é mais possível, sei que não vai mais voltar. E não porque você me desconsidera, não porque sou desprezado. Sim porque já não te quero, sim porque te desprezo. Questão resolvida. Penso, e te perco. Penso, e me encontro.
domingo, 16 de maio de 2010
Recorde-se das lembranças!
Não fuja, seu covarde! Tento me enganar nas recordações de uma vida que não te era ciente. E sempre me percebo nas lembranças de um amor, mas que também não te é ciente. Estas, decoro tão perfeitamente que quase as abrigo em um passado existente. Irreal. Coloco-me em dúvida. Pergunto o que é tudo isto. São recordações fiéis. Não. São meras lembranças de uma mente esperançosa e ilusória. Esperançosa, aguarda a volta da felicidade que um dia teve. Ilusória, não vê que esta felicidade, de fato, nunca existiu.
Alguém me chama. Alguém me salva. Seu nome, sanidade. Sinto toda aquela enxurrada deslizar por meus olhos. Já não choro. De ti, sequer me lembro; recordo-me. Procuro todos aqueles pensamentos de nós dois. Não sou egoísta. Abro mão e deixo que vaguem em tua mente. Impostora. Infiel. Mas recíproca. Sei que estarão bem lá. Cultivando as recordações de um futuro que há muito se extinguiu, alimentando as lembranças de um passado que não mais acontecerá.
sábado, 15 de maio de 2010
Escrever, verbo impessoal.

Há quem pense que escrever é uma perda de tempo, que pensar não vale a pena, que a vida foi feita pra se viver e não pra se pensar. Em partes eu concordo. Pensar não vale a pena, e a vida realmente foi feita para ser vivida. Mas escrever não é perder tempo. Não se deve pensar para escrever. Deve-se escrever para pensar. A vida foi feita para ser vivida. Mas quem disse que escrever não é viver? A escrita é uma das melhores formas de desabafar, visualizar os fatos, colocá-los em ordem e quem sabe achar uma solução.
Sou apenas um amante das palavras. Elas me fascinam. Não é simplesmente saber escrever ou ler uma palavra. Escrever não é isso. Escrever é saber criar, jogar e usar as palavras a seu favor. Escrever é persuadir. Não se resume a uma palavra após a outra, mas uma idéia após a outra. Palavras abstratas não são vazias, geralmente elas dizem mais do que as concretas. Elas não são meras palavras jogadas ao acaso, sempre há uma história por trás. É a criatividade. Cada um é criativo de seu modo, e isso faz com que cada frase seja peculiar. Cada pessoa tem uma história diferente. Escrever nada mais é do que essa soma de experiência, criatividade e linguagem. Escrever é brincar, se divertir. Escreva e guarde. Um dia você vai precisar, e aí você vai perceber que escrevendo ganhou algo, o tempo. Escrever não é perdê-lo, mas sim resgatar e aproveitar muito bem o que lhe é dado. Um tempo precioso, que talvez nunca mais volte.